sábado, novembro 06, 2004

A Vida de S. Martinho

(actualizado em 2007)
O conhecimento que se tem da vida de S. Martinho, apelidado de apóstolo da Gália, é devido principalmente ao seu primeiro e mais dedicado biógrafo, Sulpício Severo (c.360-c.420), historiador cristão de expressão latina, nascido na Aquitânia, também declarado santo.

Quando conheceu S. Martinho, já este era bispo vivendo no entanto fiel ao ideal monástico, recolhendo-se longe do fasto do palácio episcopal. Sulpício Severo tornou-se seu discípulo, amigo e biógrafo. É graças a ele que hoje temos um relato precioso da vida deste Santo
A Vida de S. Martinho (Vita Martini ) de Sulpício Severo que, de acordo com a professora Maria Luísa V. de Paiva Boléo, foi «um livro que teve enorme repercussão no mundo medieval. Espalhou-se até Cartago, Alexandria e Síria. Sabe-se que este livro foi muitíssimo lido (Enciclopedia Cattolica, Cidade do Vaticano, 1952, p. 220), o que era difícil numa época em que os livros eram caros e quando só o clero e monarcas mais cultos os leriam, mas o certo é que foi um verdadeiro "best-seller"» (fonte), nunca teve tantos leitores como hoje em dia, pois circula na internet em latim e em pelo menos mais dois idiomas: francês e inglês.
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Algumas datas mais importantes da vida de S. Martinho (Ver mais)
  • 316 - Nasce S. Martinho, filho de um oficial romano, na Panónia (região da actual Húngria).
  • 326- Com apenas 10 anos e por sua vontade torna-se catecúmeno (aspirante a cristão).
  • 330- É obrigado a ir para o exército onde pratica o ideal cristão de humildade e generosidade.
  • 337- Dá-se o episódio lendário em que S. Martinho partilha a sua capa de soldado com um pobre.
  • Em data indeterminada S. Martinho abandona o exército.
  • 354- S. Martinho chega a Poitiers onde se desloca para se juntar a Santo Hilário. Mas logo a seguir vai para a Itália com o objectivo de rever a família e evangelizar os seus conterrâneos.
  • 355-360- S. Martinho é expulso da sua própria terra (por causa do Arianismo) e passa um tempo isolado na ilha de Galinária, no meio do Mar Tirreno.
  • 361- S. Hilário volta para Poitiers e S. Martinho também.
  • 361- Funda uma comunidade monástica (a primeira da Gália) em Ligugé, a 6 km de Poitiers.
  • 371- S. Martinho torna-se Bispo de Tours, cargo que ocupará cerca de 26 anos até à sua morte.
  • 372- Funda a comunidade monástica de Marmoutier, perto de Tours.
  • 397- S. Martinho morre em Candes perto de Tours. No dia 11 de Novembro é enterrado com pompa e circunstância na cidade de que fora Bispo durante mais de um quarto de século.

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Textos biográficos
Em língua portuguesa não abundam biografias sobre o santo. Para além dos dois resumos biográficos que a seguir se transcrevem, poucas mais referências se encontraram (ver mais abaixo*).
  • O primeiro resumo biográfico encontra-se no conhecido (mas já em desuso) Missal de de Dom Gaspar Lefebvre e foi transcrito de um artigo da autoria de Luís Chaves, intitulado "São Martinho de Tours", (publicado na Separata da Revista de Etnografia nº1 do Museu de Etnografia e História, em 1963)
    «São Martinho é o primeiro dos Santos não Mártires, o primeiro Confessor, que subiu aos altares no Ocidente. No dizer de Durando de Mende, a liturgia consagra-lhe um lugar semelhante aos dos Apóstolos, por ter sido ele quem concluiu a evangelização das Gálias. A sua festa era de guarda e favorecida frequentemente pelos dias de "verão de São Martinho", rivalizando, na exuberância da alegria popular, com a festa de S. João. Tinha Oitava como S. Lourenço, porque S. Martinho, "pérola dos sacerdotes", era entre os Confessores o que S. Lourenço era entre os Mártires, o maior dos Confessores. Nasceu na Sabária Panónia) e veio para as Gálias como soldado.
    Sendo ainda catecúmeno, deu um dia perto de Amiens a um pobre, que Ihe pedia esmola por amor de Cristo, metade da clâmide. Na noite seguinte, Jesus Cristo apareceu-lhe vestido com essa metade que ele dera ao pobre, e disse-lhe: "Martinho, sendo ainda catecúmeno, vestiu-me com este manto".
    Recebeu o baptismo aos 18 anos. Depois de viajar pelo Oriente, onde se iniciou na vida monástica, faz por algum tempo vida de eremita numa ilha das costas da Ligúria. Finalmente, fez-se discípulo de Santo Hilário, que então florescia na cadeira episcopal de Poitiers e fundou no deserto de Ligugé, a duas léguas da sede do Bispado, um mosteiro para onde se retirou com alguns discípulos. Lançou assim os alicerces do monaquismo nas Gálias.
    Mas Deus não queria que esta luz, ficasse oculta debaixo do alqueire, e S. Martinho foi arrancado à paz da solidão e revestido da dignidade episcopal, que lhe deu ensejo para desenvolver largamente os dotes do seu coração de apóstolo. Pregou o Evangelho pelos campos da Gália e extirpou de vez os resíduos tenazes do paganismo, que tinham resistido à investida cristã a coberto da superstição e da ignorância do povo. Colocado à frente da diocese de Tours, fundou a célebre abadia de Marmoutiers ou o grande mosteiro aonde com frequência se retirava para viver mais longe do mundo,e mais perto de Deus. Cercavam-no oitenta monges de vida santíssima, pautada pelo exemplo e regra dos eremitas da Tebaida.
    Viveu mais de oitenta anos, ocupado sempre com a glória de Deus e a salvação das almas, e morreu em Candes, perto de Tours, em 397.
    Ao seu túmulo afluíam de toda a parte peregrinações frequentes. Gregório de Tours, que lhe sucedeu, não hesita em chamar-lhe o "Patrono de todo o mundo". Poucos santos alcançaram a popularidade dele. Só em França há perto de mil igrejas paroquiais e 485 burgos e lugares com o seu nome. Em Roma é notável a igreja de S. Silvestre e S. Martinho, onde se faz a estação de quinta-feira da quarta semana da Quaresma.
    A capa de São Martinho era conduzida à frente dos exércitos em tempo de guerra e nela se pregavam os sermões solenes em tempo de paz. Símbolo da protecção, que S. Martinho dispensava à França, esta capa deu o nome ao oratório, que a guardava, e a todos os oratórios, ou "capelas"»
Para referir este artigo
Chaves, Luís -"São Martinho de Tours", in Separata da Revista de Etnografia nº1, Museu de Etnografia e História (1963)
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  • O segundo resumo biográfico é da autoria de Alves de Oliveira e encontra-se no vol. 13 da Enciclopédia Luso- Brasileira de Cultura (Verbo):
    «Martinho de Tours (São) -Bispo de Tours (n. actual Szambatkely, Hungria, 316 ou 317- m. Candes, França, 8.11.397).
    Filho de um oficial do exército romano e nascido num posto militar fronteiriço, após estudos humanísticos, em Pavia, aos 16 anos entrou para o exército quando já a sua vontade o inclinava a fazer-se monge (aos 10 anos inscrevera-se como catecúmeno). Em breve ganhou fama de taumaturgo.
    Em Amiens, provavelmente em 338, durante uma ronda nocturna no rigor do Inverno encontrou um pobre seminu: não tendo à mão dinheiro para lhe valer, com a espada dividiu ao meio a sua clâmide que repartiu com o desconhecido.
    Na noite seguinte, em sonhos, viu Jesus, que disse:
    "Martinho, apesar de somente catecúmeno, cobriu-me com a sua capa."
    Recebeu o baptismo na Páscoa de 339, continuando como oficial da guarda imperial até aos 40 anos. Abandonando a vida castrense, foi ter com Sto. Hilário de Poitiers, que lhe conferiu ordens sacras e lhe deu possibilidade de levar vida monacal: nasceu, assim, o famoso Mosteiro de Ligugé. Eleito, por aclamação, bispo de Tours, foi sagrado provavelmente a 4.7.371.
    Ardente propagador de fé, fundou, em Marmoutier, um mosteiro donde sairam notáveis missionários e reformadores. Demoliu templos pagãos e levantou mosteiros como sustentáculos da evangelização. Humilde e pacífico, manteve a sua independência perante o abuso da autoridade civil.
    O fascínio das suas virtudes radicadas na generosidade do seu zelo, na nobreza de caracter e, sobretudo, na sua bondade ilimitada mantida para alem da morte na prodigalidade dos seus milagres, magnificamente descritas pelo seu discipulo Sulpício Severo, fez com que S. M. T. fosse durante muitos séculos o santo mais popular da Europa Ocidental. A sua memória litúrgica é a 11 de Novembro.»
Para referir este artigo
Oliveira, Alves de- "Martinho de Tours (São)", Enciclopédia Luso- Brasileira de Cultura, vol. 13 (Editorial Verbo)
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* Biografias sobre S. Martinho (em língua portuguesa)
  • Boléo, Maria Luísa V. de Paiva- "Martinho, o santo do Inverno que traz o Verão" , (publicado on line no Portal O Leme em 08-11-2004).
  • Branco, Cecilia- " De um símbolo popular na festa de S. Martinho" [pdf] . in Revista Lusitana.Volume I. Livraria Portuense, 1888-1889 (Instituto Camões)
  • Chaves, Luís -"São Martinho de Tours", in Separata da Revista de Etnografia nº1, Museu de Etnografia e História (1963)
  • Devailly, Guy (Santos, Joco trad.)- S. Martinho de Tours missionário (143 p.). Cucujães : Missões, D.L. 2001 (tít. orig. : Martin de Tours, un missionaire)
  • Maia, Joco (1923- , S.J.) - A vida de S. Martinho (26 p.). Lisboa : Verbo, [D.L.1972] Colecção: ABC. Vida de santos ; 5)
  • Oliveira, Alves de- "Martinho de Tours (São)", Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 13 (Editorial Verbo)
  • Pinto, A. Teixeira (1891-?)- O manto de São Martinho > (179 p.). Porto : L. Tavares Martins, 1938;
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Actualizado em Novembro de 2007